Laboratórios Naturais do Colégio F3

Os Laboratório Naturais são infraestruturas físicas sob gestão da Universidade de Lisboa ou acessíveis através da operacionalização de parcerias já existentes com outras entidades públicas ou privadas, que atuam como espaços de investigação, experimentação, demonstração, formação e sensibilização pública. Localizando-se em diferentes contextos geográficos (desde o natural ao rural e ao enquadramento urbano), estes locais oferecem uma grande diversidade de valências colocadas ao serviço dos atuais desafios de inovação.

A sua base instrumental fornece contacto com situações reais e garante uma experiência “hands-on” para investigadores e empresários, mas também para a sociedade civil e para os futuros profissionais.

Eventos em Laboratórios Naturais

São numerosos os desafios que se colocam à sociedade atual nos domínios da alimentação e cuja resposta requer um diálogo mais fecundo entre ciência e saberes locais contextualizados. No dia 2 de abril, o Colégio Food, Farming and Forestry (F3) da Universidade de Lisboa convidou a inovar na tradição.

Nas pequenas localidades e em zonas mais antigas das grandes cidades encontram-se, ainda, casas de pasto. Citadas nos enredos de Júlio Dinis e nos contos de Miguel Torga, eram sítios onde os viajantes paravam para comer, sendo hoje em dia uma mistura de taberna e restaurante de petiscos, onde se faz jus à cozinha tradicional portuguesa.

Pasto refere-se a qualquer tipo de alimento e é um termo muito frequente na língua italiana. No entanto, quando vamos comer ninguém diz “vamos pastar”… Ninguém diz??? O Colégio F3 atreveu-se a convidar para vir pastar!

"VENHA PASTAR CONNOSCO" consistiu numa atividade com orientação temática que deu a conhecer ervas silvestres que nascem, por exemplo, nas bordas das hortas. Estas ervas serviram desde tempos imemoriais para enriquecer os cozinhados enquanto as hortaliças não crescem. A atividade decorreu no âmbito da missão do Colégio F3, num dos seus Laboratórios Naturais, permitindo uma experiência ‘hands-on’ e o contacto com situações reais. Assim, num passeio pela Tapada da Ajuda – um Laboratório Natural situado no centro da cidade de Lisboa – cerca de 30 participantes colheram, prepararam e cozinharam labaças, acelgas, serralhas, mostarda selvagem e muitas outras, e regalaram-se com uma boa refeição em que não faltou tradição e uma pitada de ciência e modernidade na arte culinária.

Coordenação do evento: Conceição Loureiro Dias e Dalila Espírito-Santo (ISA)
Apoio:

No dia 23 de janeiro de 2016, o Colégio “Food, Farming and Forestry (F3)” organizou, à volta da “água”, uma visita a cisternas, chafarizes, alcaçarias, fontes e becos de Alfama, produzindo, entre os participantes, um novo olhar sobre o papel deste recurso natural no património e na história da cidade.

Sendo possuidora das águas mais mineralizadas da cidade de Lisboa, Alfama foi durante séculos, referência obrigatória em cartas, relatos de viagem ou estudos. À sua qualidade, abundância e temperatura não foi estranho o povo arabe que aí viveu, ao atribuir à zona o único nome possível – Al-hama, sinónimo de fonte de água quente ou nascente termal.

As termas mais antigas da cidade remontam ao domínio romano, no entanto estas nascentes aproveitadas para banhos atingiram notoriedade a partir do século XVIII, quando a terapêutica das águas motivou o interesse de estudiosos e médicos, o que conduziu a uma renovação de todas as alcaçarias, cada vez mais transformadas em banhos de acordo com as novas tendências da medicina da época. As águas que brotavam em Lisboa e suas imediações apresentavam origens diversas: Aluviais, Terciárias, Artesianas, Basalticas e Cretácicas. Assim estas águas fizeram surgir as alcaçarias ligadas inicialmente ao curtimento das peles, às lavagens de roupa e à ingestão.

Acciaiuoli faz referência ao capítulo XII do livro de 1610, escrito por Duarte Nunes de Leão, “Descrição do Reino de Portugal”, que dizia que as Alcaçarias “serviam às mulheres de serviço para ensaboarem a roupa, por escusarem aquentar a água, a qual se bebessem, parecia que faria bom efeito”. Segundo parece, esta é a primeira referência quer à termalidade das águas, quer a efeitos benéficos que estas produziam.

Alfama sempre foi auto-sustentada do ponto de vista do abastecimento de água, pois ali brotavam inúmeras nascentes cujas águas eram conduzidas até aos chafarizes onde a população se ia abastecer. Apenas a partir da primeira metade do século XX é que Alfama deixou de ser abastecida pela água dos seus chafarizes, pois esta começou a apresentar sinais de má qualidade passando o seu abastecimento a ser assegurado pela Companhia de Águas de Lisboa.

Em Alfama existia uma linha de nascentes que viria desde o Cais da Fundição (ou até antes da Bica do Sapato) até ao Chafariz de El-Rei. Dessa linha, faziam parte: o Boqueirão da Praia da Galé, o Jardim do Tabaco, o Beco do Penabuquel, o Chafariz da Praia, o Chafariz de Dentro, os Banhos do Doutor Fernando, os de Dona Clara e do Baptista. Vindas de uma profundidade que se calcula superior a 450 metros, estas nascentes de temperatura elevada, de caudal interdependente e de composição química semelhante brotam no sopé da encosta de Alfama. Tal como já foi referido, estas águas possuíam propriedades terapêuticas, referenciadas muitas vezes em diversas literaturas.

Henriques (1726), no seu Aquilégio Medicinal, refere no capítulo que diz respeito às Caldas de Lisboa Oriental que estas águas são “...de muita utilidade em curar as intemperanças quentes das entranhas, do sangue, do útero, dos rins e das mais partes do corpo; e os estupores e parlesias espurios; a debilidade de estomâgo; a fraquesa e queixas das juntas que ficam das gotas artéticas, e reumatismos; as convulsões, os acidentes do útero (...), os vómitos dos hipocôndriacos; as diarreias (…). Para os achaques a que chamam figado, são prodigiosos, porque curam as pústulas, sarnas, impingens, lepra e todos os achaques e defedações cutâneas…” Devido à existência de todas estas emergências, a toponímia da zona tem uma grande ligação com actividades ligadas à água. Exemplos disso são o Beco dos Curtumes (ou Beco das Alcaçarias), Beco das Barrelas (ou Beco de Alfama) e o Tanque das Lavadeiras. O próprio Terreiro do Trigo denominava-se Campo da Lã, por ser o local onde esta secava após ser lavada no Beco dos Curtumes.

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